A Universidade de Aveiro (UA) foi distinguida com o galardão “Campeões das Zonas Áridas”. Esta distinção foi atribuída a 17 de junho, durante as comemorações oficiais do Dia Mundial de Combate à Desertificação, organizado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), através do Núcleo Regional de Combate à Desertificação Algarve. A atribuição deste galardão, promovido pela Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, pretende distinguir indivíduos, empresas ou instituições que tenham contribuído de forma relevante para a gestão sustentável da terra.

A distinção deve-se ao trabalho de uma equipa de investigação científica do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), liderada por Celeste Coelho, professora jubilada do Departamento de Ambiente e Ordenamento da UA, que tem promovido o envolvimento dos agentes e das comunidades locais na procura de soluções para a gestão sustentável da terra e dos recursos naturais.

Este trabalho tem sido desenvolvido nos últimos 10 anos no âmbito de diversos projetos internacionais (“Desertification mitigation and remediation of land. A global approach for local solutions” - DESIRE, “Preventing and Remediating degradation of soils in Europe through Land” - RECARE e “CAtastrophic Shifts in drylands: how CAn we prevent ecosystem Degradation”  - CASCADE) e nacionais (“Recuperação de Áreas Ardidas” - RAA, “Estratégias de remediação de solos imediatamente após incêndios florestais” - RECOVER e  “O papel dos agentes locais no sucesso da política florestal em áreas afetadas por incêndios em Portugal” - FORESTAKE). O projeto RAA, envolvendo a UA e coordenado pelo Centro de Ecologia Aplicada do Instituto Superior de Agronomia (ISA), entre 2005 e 2011, foi o primeiro deste conjunto. A academia aveirense foi a entidade coordenadora dos projetos RECOVER e FORESTAKE.

Nestes projetos foram desenvolvidas e implementadas abordagens e metodologias participativas, nas quais a UA já detinha mais de 20 anos de experiência, na tentativa de integrar o conhecimento das comunidades locais, dos agentes e dos cientistas, em prol da aceitação social e a viabilização de estratégias para a gestão sustentável do território e combate à desertificação. Estas estratégias incluem ações de prevenção e mitigação da degradação do solo, afetado por incêndios florestais.

Área ardida no concelho de Mação

A equipa de investigação do projeto RECARE da Universidade de Aveiro irá apresentar os primeiros resultados da aplicação do acolchoado (mulching) numa área ardida em Semide. Esta foi uma das técnicas de mitigação da erosão do solo selecionada, em conjunto com os agentes locais e externos, no workshop participativo realizado em 2015. Neste mesmo dia, iremos visitar uma área lavrada segundo as curvas de nível após incêndio, segunda técnica selecionada pelos agentes, e conhecer o desenho experimental das parcelas que irão ser monitorizadas pela Universidade de Aveiro.

Em breve, disponibilizaremos o programa detalhado. Reserve este dia na sua agenda!

A equipa de investigação da Universidade de Aveiro está a organizar uma atividade de demonstração da lavragem segundo as curvas de nível, no âmbito do projeto RECARE. Esta técnica, juntamente com o acolchoado com resíduos florestais (mulching), foi selecionada no segundo workshop participativo do RECARE, realizado na União de Freguesias de São João do Monte e Mosteirinho do concelho de Tondela, como técnicas a avaliar enquanto medidas de mitigação da erosão do solo pós-fogo.

Com a atividade de demonstração pretende-se apresentar o ensaio experimental da lavragem segundo as curvas de nível a todos os agentes envolvidos no projeto, bem como a outras agentes interessados em participar.

A atividade de demonstração irá ser realizada na área de estudo de Semide (concelho de Miranda do Corvo), ainda sem data definida, prevista para o final do mês de maio. Para mais informações, por favor entre em contato com a equipa do projeto.

Decorrente das conclusões obtidas nos workshops anteriores realizados com os agentes locais parceiros do projeto RECARE, a Universidade de Aveiro iniciou recentemente as experiências de campo para mitigação da erosão pós-incêndio, implementando as técnicas que foram previamente selecionadas pelos agentes locais – incorporação de resíduos florestais (acolchoado ou mulching) e lavragem segundo as curvas de nível.

A nova área de estudo encontra-se localizada na freguesia de Semide, concelho de Miranda do Corvo, distrito de Coimbra, correspondendo a um incêndio florestal que deflagrou nos dias 9 e 10 de Agosto de 2015, tendo sido consumidos cerca de 700 ha de plantações florestais. A área afetada pelo incêndio cobre uma parte da bacia do rio Ceira (Figura 1).

Figura 1 – Vista parcial da área afetada pelo incêndio

Figura 1 – Vista parcial da área afectada pelo incêndio

Embora, até ao momento, a técnica de lavragem segundo curvas de nível não tenha ainda sido posta em prática, a técnica de aplicação de acolchoado foi já implementada utilizando resíduos de plantações de eucaliptos, em duas taxas de aplicação distintas: uma aplicação standard de cerca de 10 t/ha, a qual foi anteriormente demonstrada pela equipa da Universidade de Aveiro como sendo efetiva na redução da escorrência e erosão pós-incêndio, e uma taxa mais reduzida de cerca de 3 t/ha (Figura 2B). Esta taxa de aplicação mais reduzida representa uma diminuição de custos evidente, e tem vindo a ser testada em laboratório pela equipa da Universidade de Aveiro com resultados promissores. A aplicação do acolchoado de resíduos vegetais foi demonstrada a alguns dos agentes locais parceiros do projeto RECARE na própria área de estudo, no dia 25 de Setembro de 2015 (Figura 3).

Figura 2 – Diferentes escalas de estudo da aplicação de acolchoado: A – micro-parcelas de cerca de 0,5 m2; B – parcelas de 16 m2 (esq. 10 t/ha, dir. 3 t/ha); C – cabeceiras de 1000 m2 (3 t/ha)

Figura 2 – Diferentes escalas de estudo da aplicação de acolchoado: A – micro-parcelas de cerca de 0,5 m2; B – parcelas de 16 m2 (esq. 10 t/ha, dir. 3 t/ha); C – cabeceiras de 1000 m2 (3 t/ha)

Figura 3 – Demonstração da técnica de aplicação de acolchoado aos agentes locais parceiros do RECARE, em 25 de Setembro de 2015

Figura 3 – Demonstração da técnica de aplicação de acolchoado aos agentes locais parceiros do RECARE, em 25 de Setembro de 2015

O estudo em curso contempla diferentes escalas de aplicação das medidas selecionadas, incluindo, por exemplo, micro-parcelas de cerca de 0.25 m2, parcelas de cerca de 16 m2, cabeceiras de cerca de 1000 m2 e uma bacia hidrográfica de cerca de 14 ha (Figura 2). A área encontra-se instrumentada com tecnologia que permite recolha de dados de forma contínua e com elevada precisão, incluindo sensores de humidade e temperatura do solo, sensores de registo da escorrência nas parcelas, diversos pluviómetros, uma estação meteorológica e uma estação hidrométrica (Figura 4).

Figura 4 – Estação meteorológica (A) e estação hidrométrica (B) instaladas na área de estudo

Figura 4 – Estação meteorológica (A) e estação hidrométrica (B) instaladas na área de estudo

Dado o carácter fortemente interdisciplinar do presente projeto, o trabalho irá também avaliar os impactos da técnica de aplicação de acolchoado na dinâmica da matéria orgânica e dos nutrientes do solo, e ainda na biodiversidade, em diferentes níveis da cadeia trófica (incluindo microrganismos, animais invertebrados, vegetação terrestre e aquática). Finalmente, o estudo irá ainda comparar as duas técnicas de mitigação da erosão com respeito às suas consequências nos serviços de ecossistema facultados pelo solo, utilizando as ferramentas que têm sido desenvolvidas pelo projeto RECARE.

O Dia Mundial do Solo no dia 5 de Dezembro de 2015 marca o final do Ano Internacional dos Solos, no entanto é reconfortante saber que os cientistas continuam a trabalhar para encontrar soluções para proteger os nossos solos.

2015 foi declarado o Ano Internacional dos Solos pelas Nações Unidas para aumentar a consciência da extrema importância do solo para a vida humana (http://www.fao.org/soils-2015/en/). Tanto como fornecedor de alimentos e fibras, os solos podem ter um papel importante na mitigação da mudança climática através do armazenamento do carbono e da diminuição das emissões de gases com efeito de estufa na atmosfera. Isto significa que os solos têm um papel essencial a desempenhar nas atuais discussões sobre Mudanças Climáticas que estão a ocorrer em Paris.

Apesar da atenção mundial se afastar agora dos solos, os investigadores do projeto RECARE (http://www.recare-hub.eu.new/), financiado pela UE, vão continuar a desenvolver soluções para os problemas de erosão do solo, compactação do solo, contaminação do solo, inundações e deslizamentos de terra, desertificação, perda de biodiversidade, diminuição da matéria orgânica, salinização e impermeabilização do solo.Os desafios para a vida das pessoas e seus bens são apresentados numa série de documentários internacionais que mostram como os solos degradados arruínam vidas (https://vimeo.com/channels/recare).

Os investigadores do RECARE (incluindo uma equipa da Universidade de Aveiro, com membros do CESAM, DAO e ESTGA) estão a trabalhar com as populações locais em 17 casos de estudo distribuídos pela Europa para colocar em prática soluções para salvar os solos. Intervenções de baixa tecnologia, mas cientificamente informadas, estão em curso para transformar a protecção dos solos e as vidas dos que são afetados. Alguns exemplos incluem, hidrovias com vegetação, acolchoado com palha (mulching) ou terraceamento para evitar a erosão do solo e as inundações, o uso de culturas mistas e diversificadas para aumentar a matéria orgânica do solo, ou a plantação de espécies de árvores específicas para remover as toxinas do solos contaminados. No âmbito do RECARE já foi produzida uma revisão das medidas potenciais que podem ser aplicadas para combater estas ameaças ao solo (http://www.recare-project.eu/downloads-by-category/recare-reports/other-reports/310-report-09-literature-review-on-measures-on-soil-threats-isric-full/file).

No caso de estudo português, a equipa da Universidade de Aveiro está a estudar a eficácia de medidas para reduzir a erosão hídrica do solo após incêndios florestais e, em particular, a eficiência da construção de barreiras de controlo de erosão, da aplicação de um coberto de resíduos florestais restantes da extracção lenhosa (mulching) e da lavragem segundo as curvas de nível após incêndios florestais. Estas medidas foram seleccionadas em conjunto com os agentes do RECARE em Portugal, em dois workshops que foram organizados no início deste ano na União das Freguesias de São João do Monte e Mosteirinho, onde ocorreu um grande incêndio durante o Verão de 2013.

O professor Coen Ritsema, da Universidade de Wageningen na Holanda, é o coordenador do projeto RECARE. Usando as suas palavras,

“Como o Ano Internacional dos Solos está a terminar, é bom saber que o trabalho para proteger este recurso precioso continua. A equipa do projeto está empenhada em assegurar que é capaz de fornecer às pessoas soluções práticas e economicamente acessíveis para que eles possam proteger os nossos solos. 2015 fez crescer a sensibilização pública sobre o papel vital dos solos nas nossas vidas, agora necessitamos agir”.

Os investigadores do RECARE vão continuar o seu trabalho para desenvolver medidas de prevenção, remediação e reabilitação na batalha contra as ameaças ao solo até 2018, altura em que o projeto terminará.

 

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Informação Editorial

Professor Coen Ritsema, da Universidade de Wageningen na Holanda, é o Coordenador do projeto RECARE

Tel: +31 317 48 65 17,   Email: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

Jan Jacob Keizer do CESAM, DAO, é o Coordenador da equipa da Universidade de Aveiro em Portugal

Tel: +351 936346447, Email: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

Sandra Valente do CESAM, DAO, Universidade de Aveiro é a responsável pelos contactos e envolvimento dos agentes no projeto RECARE em Portugal

Tel: +351 969331052,   Email: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.